Não sou própria ou absolutamente pessoa de meios termos, designadamente ou me abandono passiva e abnegadamente á vida, não importando se ganho ou se perco o que quer que seja, desde que seja mínima e imediatamente útil a outrens, ainda que aqui necessite ou permita e procure quase permanentemente quem me diga ou imponha o que, como, porque e para que fazer ou deixar de fazer, como se eu não existisse como personalidade e identidade própria. Ou por outro lado entregando-me activa e interessadamente á vida, pró positivo proveito pessoal, humano, vital e universal próprio e envolvente, o que me exige autoconfiança, auto estima e amor próprio, implicando o culto da minha personalidade e identidade própria, em aberta e positiva interacção com o exterior ou perante e para com o próprio exterior, independentemente do que á partida e á chegada eu ou outro alguém possa ganhar ou perder relativamente ao que ou a quem mais quer que seja.
Mas tendo eu globalmente como princípio e mais corrente meio existencial próprio, o passivo e abnegado abandono á vida. Desde logo porque me habituei sócio/cultural/familiar e existencialmente de base a dever mais do que respeito, mesmo incondicional e unilateral obediência a uma infinidade de hierarquias superiores. Sendo que tendi a entregar-me a algumas dessas hierarquias, como á cabeça a hierarquia familiar e social envolvente, mas hierarquias que quase invariável e sucessivamente traíram ou desiludiram desde logo a minha confiança ou ilusão depositada nas mesmas. No caso da hierarquia familiar, se outro motivo de traição ou desilusão não houve-se, foi a própria que (já em liberdade democrática) expressa e maternal/paternalmente em nome do meu próprio “bem” me pediu ou exigiu que “estuda-se para não ter de ser como a própria” _ esforçada, sofrível e serviçal subsistente!. O que convenha-se que para além de eu ter na mesma a minha primordial e em grande medida a maior e melhor referência de vida, também enquanto eu devedor de incondicional respeito e obediência á mesma, era no mínimo um contra-senso. No caso da hierarquia social, nasci e comecei a crescer num contexto sócio cultural rural (pré revolução democrática), bastante estratificado, semi analfabeto e tão paternalista, quanto quiçás também por isso semi proteccionista e opressivo; apanhei com a revolução pró democrática _ que quase ninguém do meu contexto existencial envolvente sabia exacta ou em absoluto o que queria imediata ou objectivamente dizer _ aos meus seis anos de idade e mas que por pragmático exemplo sócio/cultural escolar, só comecei a sentir verdadeiramente os efeitos de dita revolução por volta dos nove anos, quando na frequência da quarta classe do ensino escolar primário veio uma nova professora que já não castigava fisicamente com bofetadas, puxões de orelhas e palmatoadas, nem estigmatizava psicologicamente como “burro’s”, em qualquer dos casos, ao mais mínimo erro curricular ou falha disciplinar. Deixando inclusive de se cantar o hino nacional ás Segundas-feiras de manhã e Sextas-feiras á tarde e de rezar invariavelmente todas as manhãs e ir á missa, salvo erro, uma vez por semana. Muito resumidamente passando-se então para um contexto sócio/cultural tão aliciante e semi consciente ou conscientemente desejado, quanto surpreendente e ironicamente chocante, em que cada qual começaria a ser livremente responsável de e por si mesmo, perante e para com o próximo, sem ter constante e permanentemente uma maternalista/paternalista hierarquia superior a impor-se-lhe(me), desde logo em nome do seu(meu) próprio “bem”!
Mas que não tendo eu terminado de me adaptar a um contexto sócio/cultural, nem ter acabado por conseguir adaptar-me ao seguinte; circunstancial, providencial e/ou ironicamente a partir de determinada fase e circunstancias da minha existência, particularmente na adolescência, _ á falta de referentes e satisfatórias alternativas envolventes ou de positivas e coerentes capacidades próprias _, entre tudo isto acabei "livre a autonomamente" por me abandonar á minha própria necessidade de subsistência básica, entregando-me ao que e/ou a quem me sustenta-se legitimamente a mesma _ desde logo servindo eu dalguma forma essa(s) entidade(s) sustentadora(s) da minha subsistência, á excepção da minha família (maternal/paternal) de origem que chegou a ser inexcedível e incondicional servidora a este nível. Procurando no entanto eu e intimamente por mim mesmo não perder de todo de vista, que ao menos pontualmente e em particular na minha infância, com carência de preceitos e preconceitos e por isso com risco e por vezes concretização do inverso, no entanto ter tido (também) verdadeiros e positivos acessos de personalidade e de identidade própria, que me fizeram sentir em profunda comunhão comigo mesmo, com o próximo, com a vida, com o universo, algo próximo ou que mesmo se pode designar por paz e plenitude interior e se acaso felicidade pessoal, humana, vital e universal _ em que designadamente alguém fica a ganhar ou a perder o que quer que seja, relativamente ao que e a quem mais quer que seja. No caso auto preservando essa recordação mental ou espiritual, como base de e para com uma minha possível pró activa e interessada entrega á vida.
De entre o que não tendo, nem podendo jamais ter-me satisfeito os meus passivos e abnegados abandonos á vida, mas tão pouco tendo jamais conseguido encontrar-me sólida, linear, coerente e não raro absolutamente com uma activa e interessada entrega á vida. Algum circunstancial ou providencial dia vi-me na contingência que começar a escrever para tão só necessitar sobreviver entre este meu, salvo raras e devidas excepções, aparentemente eterno paradoxo ou desencontro comigo mesmo, com o próximo, com a vida e com o universo. Podendo dalgum modo dizer que tenho intermediamente na escrita uma minha passiva e abnegada entrega á vida e/ou um pró activo e interessado abandono á vida. Digamos ainda que tenho a e na escrita o meu pró vital, sanitário ou subsistente meio e forma de existência própria, designadamente entre passivo e abnegado abandono, versos pró activa e interessada entrega á vida.
No caso não só espero, como mesmo creio que esta minha escrita, enquanto meu meio e forma de existência própria, fale e falará por si só e respectivamente em e por mim mesmo e/ou vice-versa!
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