terça-feira, dezembro 29, 2009

Inevitável!

Na dimensão sociocultural em que nasci e cresci, ser criança à imagem e semelhança de ser mulher equivalia a ser nada, a ser ninguém.

Levando a coisa ilustrativamente ao extremo, por exemplo: um homem (macho) adulto podia fazer mil coisas num dia e mas só uma das mesmas sair bem. Esta ultima seria valorizada como mérito próprio, já as novecentas e noventa e nove restantes e mal sucedidas, por norma seriam assumidas como culpa de deus(es), de diabos, de feiticeiras, do próximo, duma hierarquia subalterna ou entidade externa, etc., etc., etc., mas jamais como culpa ou positiva carência (masculina e adulta) própria. E quando a culpa ou a deficiência própria era(m) necessária ou inevitavelmente assumida(s), isso era também (auto) valorizado como um mérito (masculino/adulto) próprio.

Já e pela inversa, uma mulher (fêmea) podia fazer equitativas mil coisas num só dia _ que de resto e em regra o género feminino tem de facto a particular capacidade inata ou cultural de se desdobrar em “mil coisas” ao mesmo tempo _ e se dessas mesmas mil coisas, respectivamente novecentas e noventa e nove saíssem bem e só uma restante não saí-se ou saí-se mal. Por norma só a que saí-se mal era socioculturalmente valorizada como que da feminilidade não se esperando mais ou melhor do que falhanço próprio, a partir do que tudo o mais era ignorado, desvalorizado ou relativizado, desde logo enquanto mérito feminino próprio _ aquém e além da "superior" tutela, supervisão e/ou imposição masculina.

Algo equivalente se passava entre o mundo adulto e o mundo infanto-juvenil, na circunstancia com o mundo adulto (masculino e feminino) a equivaler-se à atrás descrita “superioridade” masculina e o mundo infanto-juvenil (masculino e feminino) a equivaler-se à também atrás descrita “inferioridade” feminina. A partir do que digo eu, seria muito difícil ou mesmo inevitável nascer e crescer como criança e juvenil num contexto sociocultural assim, sem se render ao mesmo ou pela inversa sem entrar em conflito com o mesmo e/ou de entre meio caindo em profunda ambiguidade existencial própria. Neste ultimo caso em especial ao nível masculino, que enquanto infanto-juvenil devia mais do que positivo respeito, mesmo incondicional obediência ao mundo adulto, incluindo à feminilidade adulta, enquanto feminilidade a quem masculinamente mais tarde teria de se impor incondicional e/ou pior se (es)forçada e artificialmente, não raro com base na razão da força!

(Por mim e independentemente da sequencial ordem ou até da alternância entre factores, confesso que toquei parcialmente a rendição, o conflito e acima de tudo a ambiguidade, também por isso escrevo pró vital, sanitária e subsistentemente).

Enfim a provar estas rendições, conflitos ou ambiguidades ao genérico nível sociocultural, está o passado de uniões inter e/ou heterossexuais eternamente mantidas, em regra por artificial força sociocultural machista/paternalista, em grande parte dos casos saberá Deus e os próprios envolvidos em que condições (ir)relacionais. Pela inversa estão de há muito a esta parte e parece que circunstancialmente cada vez mais as disfunções, as desagregações e/ou as incompatibilidades inter e heterossexuais, desde logo de médio-longo prazo e acima de tudo como base de estabilidade do alicerce familiar de todos e de cada qual, em dita liberdade individual e de efectiva ou suposta igualdade de géneros. Que espero, desejo e necessito tudo como global e sequencial processo evolutivo humano, com ressalva das devidas excepções, para uma dimensão sociocultural de verdadeira igualdade de direitos vitais ou universais entre indivíduos, entre géneros sexuais, entre estatutos socioculturais, etc., desde logo com efectivo reconhecimento e respeito pelas incontornáveis, desejáveis, necessárias e naturais diferenças entre todos e cada qual!

Caso contrário, com respectiva e equitativa ressalva das sempre devidas excepções, creio que estamos humanamente condenados a um eterno desencontro connosco mesmos, com o próximo, com o diverso, no fundo com a própria vida universal, enquanto tal.

Nota: Posso estar parcial ou _ creio que não _ absolutamente errado na minha inerente analogia e/ou ao menos na forma como expresso, desenvolvo e exponho a mesma; mas apesar de ou até pelo que não só gosto, como mesmo necessito e em parte não posso, nem quero evitar este tipo de ensaios pró racionais, intelectuais e no caso literários.

Sem comentários:

Enviar um comentário